sexta-feira, 3 de julho de 2009

COM A PALAVRA, A UNIVERSIDADE

Entre todos os outros artigos publicado à respeito , esse no jornal "Estadão", de 14 de Junho de 2009, me chamou mais a atenção.
Não pelo veículo, que alguns consideram neo-liberal.
Mas pela discussão e reflexão proposta pelo ex-diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, o Prof. Gabriel Cohn.
Para ele (e para muitos), a Universidade ainda é um ente distante que não atende as necessidades sociais. Ambos os lados se queixam de falta de consideração pelo outro.
Coloca a discussão em pauta, diante do enfrentamento ocorrido entre alunos e funcionários em greve na USP, onde a PM deixa um aluno e cinco policiais gravemente feridos.
O referido professor até brinca com o texto citando uma frase do historiador Carlos Guilherme Mota, que diz: "Uma universidade cujo fundador lhe dá as costas não poderia dar mesmo certo"....rs...o fundador em questão é a figura de Armando Salles Oliveira, que empresta seu nome como fundador ao campus principal da USP.
Em princípio, não se nega o reconhecimento desta e de outras tantas Universidades Públicas. Nem se quer discutir a figura de ilustre pessoa. Nem para onde aponta seu derriére.
O artigo se torna interessante, porque levanta a questão em que os meios de comunicação vêm dedicando atenção aos problemas no funcionamento de instituições políticas, em especial o Legislativo Federal.
Ao mesmo tempo, situações críticas internas ocupam o noticiário em SP. É como se estivessemos diante de duas instituições vulneráveis aos desmandos, cada qual a seu modo.
Uma das reflexões que faz é muito interessante para nós que vivemos em um ambiente acadêmico: "Por que ela (universidade/instituição) é tão pouco eficiente quando se volta para si própria e ao mesmo tempo tão indiferente ao que se passa lá fora, na sociedade mais ampla?". Na realidade a Universidade não está, de modo algum, de costas para a sociedade ou indiferente à ela. Mas certamente é verdade que ela se descuida da comunicação com o mundo ao seu redor. E concordo plenamente com essa posição.
O professor nos ensina que, em consequência disso, pouco se faz para demonstrar ao cidadão comum o modo peculiar e inteiramente legítimo pelo qual se faz presente na sociedade à qual pertence.
Cabe aqui lembrar que é justamente esse cidadão comum que contribui para sustentar a Universidade, com pagamentos diretos pelos serviços quando é privada e mediante impostos quando é pública. Aqui também cabe o risco (perverso) de que a universidade pública e gratuita passe a ser vista como um favor, como um encargo do qual se preferiria escapar.
O que não ocorre é o entendimento no interior da sociedade de uma concepção propriamente pública da Universidade como um bem valioso, do qual faz pleno sentido participar, ainda sem benefícios diretos.
Nesse "estado de coisas", para amplos setores da sociedade, por sua vez, a Universidade é um ente distante e abstrato, do qual não se sabe o que esperar e exigir.
Cohn, nos mostra idéias interessantes à respeito (e da qual conjugo) que é a de que todos os trabalhos de pesquisa desenvolvidos, inclusive com apoio público (como a Fapesp), se traduzam em textos simples que devam gerar uma visão sintética, amplamente acessível e difundida para além do ambito acadêmico. Nela se esclareceria o tema, sua importância e para que servem os resultados.
Como dissemos, com a palavra a Universidade.
E aqui, com a palavra a sociedade: Cabe a Universidade explicar a sociedade o que legitimamente lhe cabe fazer para justificar o papel reservado à ela. Isso envolve um aprendizado mútuo, onde a sociedade aprende a cobrar da universidade aquilo que ela sabe fazer bem (a pesquisa de ponta e a boa formação) e esta aprende a exercer sua indispensável autonomia com plena abertura para seu entorno social.
Obrigada pelo aprendizado professor.

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