terça-feira, 4 de agosto de 2009

EM ALGUNS MOMENTOS, SEMPRE É PRECISO TER TEMPO



Meu texto hoje, é uma indicação de um livro. E parte de um momento onde o tempo para mim é precioso. O momento de estar com minhas filhas. E aos poucos nessa tarde, lá vem uma delas (a adolescente). Entra em meu escritório e começa a mexer nos livros. Observo. Indico a leitura de um livro que curti de montão. E sei que tem muita mãe por aí que vai ficar horrorizada....rs...e como educadora que também gosta muito de estar com adolescentes "desajustados", fica a dica para os colegas de profissão: CLEO E DANIEL - de Roberto Freire.

Mas afinal, quem é esse cara???
Roberto Freire, nasceu em São Paulo, no ano de 1927. Formou-se em Medicina e como bolsista da Unesco, continuou seus estudos no Colège de France em Paris. Alternava o consultório particular com o de fábricas, para tornar-se psicanalista.exerceu por alguns anos a profissão e abandounou definitivamente a medicina. Paralelamente a atividade científica, interessou-se sempre por literatura e teatro. No teatro, iniciou pela atividade didática, sendo por algum tempo professor de psicologia do ator, na Escola de Arte Dramática de São Paulo. Escreveu peças e com o TUCA (Teatro da Universidade Católica de São Paulo), participou da conquista do grande premio do Festival Universitário de Nancy, na França, em 1966. O mais legal mesmo foi seu lado social e político. Participou da Campanha Nacional de Alfabetização pelo sistema Paulo Freire e idealizou a Campanha Nacional de Popularização do Teatro, além de ser membro do Conselho Nacional de Cultura. Essas atividades, somadas ao de diretor do semanário católico Brasil Urgente, levaram-no duas vezes à prisão e a responder IPMs em 1964. O romance CLEO E DANIEL, foi escrito durante o período de desemprego forçado pelas condições políticas. Foi transformado posteriormente em roteiro cinematográfico e foi filmado sob a direção do autor. Roberto Freire era divorciado e tinha três filhos homens e músicos. Morreu em 23 de maio de 2008, aos 81 anos.




" Esperei muito tempo por você. Meu nome é Rudolf Flügel. Como os mendigos e as putas, a gente logo percebe quais os que vão parar diante de nós para a oferenda. Para esses não estendemos as mãos. Com eles não trocamos o que temos, mas o que somos. Você está diante de mim, com os olhos abertos. Prontos para que eu escreva livremente sobre eles. Tudo. Sim, tudo. Porém do jeito que sugeriu Henri Michaux: Nada da imaginação voluntária do profissional; nem temas, nem desenvolvimento, nem construção, nem método; ao contrário, apenas a imaginação e a impossibilidade em conformar-se".




Palavras do autor:

"....Todo jovem sincero e inteligente intui qual o futuro de seu amor na sociedade em que vivemos. Ele sabe que o beijo das horas de Cleo e Daniel na Praça da República, o banho na cachoeira do parque, por exemplo, podem acabar diante de uma televisão, assistindo novelas, também por exemplo. Sabem que a mediocridade asfixiante da classe média pode levá-los a necessitar o destelhamento de suas casas e, em seguida, serão levados ao sanatório e ao eletrochoque. Enfim, sabem que é o amor o contrário da morte, não a vida, não qualquer vida. Mas sabem também que a vida que lhes é imposta significa a morte do amor'.


Cléo e Daniel é o impossível caso de amor entre um casal de jovens sensíveis e considerados pela sociedade como "desajustados". Primeiro romance de Roberto Freire, lançado em 1966, escandalizou o país com sua linguagem contemporânea e contundente. Foi considerado um “Romeu e Julieta” nacional. Dois adolescentes, de quinze e dezessete anos descobrem e vivem o amor total, e por isso mesmo são caçados pela população da cidade de São Paulo. Com mais de trinta anos, continua um romance atual e interessa igualmente à juventude.



O livro, que não tem uma estrutura lineal definida, se passa em três planos diferentes. Primeiro, a relação de Rudolf Flügel com Benjamin e tudo o que daí decorre: «Benjamin. Ele é baiano. Preferiu viver em São Paulo porque adora o deserto. [...] Negro, retinto, há quase quarenta anos Benjamin é poeta, antropologista, filósofo e solteiro. Como tudo isso não rende dinheiro algum, tornou-se o mais completo tradutor da cidade.» (Pg. 11-12) Segundo, a cafetina francesa Gabrielle, de mais de sessenta anos, seu Bar do Viajante “Requiescat in Pace” e a turma de homossexuais velhos, os “elefantes”, que o freqüentam. O terceiro núcleo seria o composto por Cléo, Daniel e amigos como Marcus. Rudolf entra em relação com cada um dos personagens. E logo, como quase sempre, tem alguns personagens secundários que, em muitos dos casos, são tanto ou mais importantes que os principais, por causa de algumas das palavras que o escritor faz-lhes dizer ou ouvir da boca do protagonista.Desta vez, não é a minha intenção fazer o resumo do romance. A história que explica o livro não é só uma, é várias. Do total de 261 páginas de que consta a edição que usei, encontrei na 206 o que se pode considerar como a síntese temática de Cléo e Daniel: «Mais especificamente, o mito de Rudolf é este: devorar a esfinge em lugar de decifrá-la. E seguir o itinerário da solidão, percorrendo os caminhos do sexo, da loucura e da morte.»A relação entre Rudolf e Benjamin explora a natureza do sexo e do amor, ou, melhor ainda, da perda do amor, no que depois se revelara como uma das teses principais do livro: a inexistência do amor é a causa da natureza torcida da humanidade. Benjamin e Rudolf dividiam, quando ainda nem se conheciam, amizade e corpo com Beatriz e Madalena. Beatriz, a pintora, divide apartamento com Fernanda, a atriz. Amante das duas, Rudolf deixa grávida Fernanda, fato que o afunda na desesperação. Mais ainda quando Fernando e o filho morrem no parto.O “Requiescat in Pace” simboliza o lugar não aceito pela sociedade burguesa, o bar dos danificados e excluídos. A cafetina e as suas prostitutas, os quartos, e essa turma dos “elefantes” que passa os dias e as noites nessa atmosfera lúgubre, descrita por Rudolf, não julgada. A ação no “Requiescat...” começa com a morte de uma das putas e acaba com a morte do local por fechamento e partida da proprietária Gabrielle. Por vezes o leitor tem a sensação que Rudolf deixou o consultório pelo bar. Como se o senhor psiquiatra tivesse deixado de ver as pessoas de acima para vê-las de lado.E finalmente Cléo e Daniel. Cleo é uma menina que foi forçada a abortar pela sua mãe, digna representante da sociedade opulenta que Freire quer criticar e que não pode suportar a idéia da gravidez de uma filha adolescente. Pai, mãe e sua filha não convivem bem. Assim, Cléo vive de festa em festa, tomando comprimidos quantas vezes for preciso até que um dia sua mãe a leva ao psiquiatra. Ali Cléo entra em contato com Rudolf... e com Daniel. Pela sua vez, Daniel chega até Rudolf a través de Marcus, seu amigo pederasta que vem pedindo pílulas para seu amigo adito. Daniel vive aprontando, agride os seus pais, falta à escola e se revolta contra tudo o que está no seu redor. O encontro com Cléo tinha que ser inevitável. O desejo também. E o amor As duas criaturas decidem acabar com a vida juntas, uma alimentando com pílulas azuis a outra, e vice-versa. Saem à rua e, em vez de pedir ajuda, afirmam ter encontrado a paz. São pegos pela polícia e morrem diante da autoridade, despidos, abraçados, num beijo eterno.


Um comentário:

  1. Meio non sense; não faz meu estilo.

    Mas enfim, considero que um dos "X"s da questão é:

    A gente vê famílias tão lindas com pai, mãe, filhos e cachorrinho perfumado e adornado de fitinhas e lacinhos, todos juntos na sala de televisão enquanto outros filhos de outros pais que não tem sala de televisão, nem livros idiotas lidos pela classe média, e cachorros magros e sarnentos na porta da casa esperando um resto de comida, morrem de fome, de doenças facilmente curáveis, de violência, de abandono.
    As famílias lindas, protegidas por aquele Deus asséptico, agradecem pelo que têm, enquanto os desgraçados suplicam por trabalho, por alimento, pela misericórdia do Deus que, dizem, ser onipotente, onipresente e onisciente. Aquele mesmo Deus que após uns 300 mil anos de existência do Homo sapiens, só então resolve intervir sacrificando, supostamente, a si próprio em forma humana como forma de bode expiatório pelas mazelas da humanidade, e algum lugar da Palestina.

    A vida pode ser um pesadelo pra maioria das pessoas. Agora, o que é mais revoltante é ver “santos” negarem a realidade.
    Envoltos em suas auras limpas, observando e lamentando o mundo do alto de púlpitos, preferem entoar hinos pobres e idiotas; orar pra um fantasma ausente que satisfaz suas necessidades psicológicas “santíssimas” e livrarem, com estes versos espirituais, sua consciência de qualquer obrigação com o mundo real.

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